“Descobri meu propósito de vida no ‘Família Acolhedora’ e não consigo imaginar meu futuro sem ele.” Essa declaração decidida é de Isabel Cristina Rosário da Hora, uma jovem de 21 anos, que faz parte do Serviço Família Acolhedora (SFA) desde os 15 anos. Este projeto, conduzido pela Secretaria Municipal de Assistência Social de Nova Iguaçu (SEMAS), é voltado ao acolhimento de crianças e adolescentes separados judicialmente de suas famílias biológicas, que necessitam de um lar temporário.
Introduzido pela Prefeitura de Nova Iguaçu em 2018, o ‘Família Acolhedora’ se apresenta como uma alternativa aos abrigos. Atualmente, no município, 48 crianças estão sob acolhimento institucional, das quais apenas oito estão assistidas pelo SFA. Assim, a cidade continua a cadastrar famílias dispostas a abrir suas portas. Neste momento, são oito famílias já habilitadas.
De acordo com a coordenadora do ‘Família Acolhedora’, Viviane Cordeiro Marques, a principal vantagem do serviço é oferecer às crianças e adolescentes um lar. “Eles são afastados de seu lar de origem e, ao invés de serem levados a uma instituição, vão para um ambiente onde podem receber cuidados individualizados e experimentar rotinas típicas de uma família”, esclarece.
Da habilitação ao acolhimento
Isabel era apenas uma adolescente quando persuadiu os pais, a professora Ana Cristina Soares do Rosário e o pintor Paulo Roberto Campos da Hora, a se associarem ao serviço. Com contato apenas com outras crianças na escola, ela anseia por irmãos, mas o casal não planejava ter mais filhos. Ao buscarem soluções para amenizar esse vazio, descobriram o Serviço Família Acolhedora em 2019.
“Participamos de um extenso processo de habilitação que envolveu questionários, entrevistas e avaliação da casa, além de treinamento sobre o serviço, legislação e aspectos psicológicos, até que realizássemos nosso primeiro acolhimento em 2020”, relata Isabel, que atualmente é estudante de Matemática na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Além de se concentrar nos estudos, Isabel também trabalha como jovem aprendiz em uma empresa. Mesmo assim, ela e seus pais ajustam a rotina da família a cada acolhimento. Ao longo dos últimos cinco anos, oito crianças passaram pelo lar dos Rosário da Hora em seis acolhimentos distintos, dois dos quais incluíram irmãos.
Atualmente, Isabel acolhe uma menina de 10 meses e destaca que as experiências são sempre únicas, trazendo tanto alegrias quanto grandes desafios. “Todos os acolhimentos são significativos e sempre buscamos manter contato com as crianças após a conclusão da nossa missão. Uma delas, inclusive, retornou para a guarda do pai biológico, e a família, em agradecimento pelo acolhimento, me convidou para ser a madrinha”, revela a jovem, que aceitou o convite.
Experiência transformadora
Ao longo do acolhimento, Isabel e seus pais receberam crianças com diversas histórias, incluindo vítimas de negligência, violência física e até abuso sexual. Por isso, o ‘Família Acolhedora’ transcende a simples assistência e se torna um ato de amor e compromisso que modifica não apenas a vida da criança acolhida, mas também a da família que a recebe.
“São narrativas que se entrelaçam, experiências que são compartilhadas. Não há como participar do Família Acolhedora e não ser impactado”, assegura Isabel, que após o acolhimento atual, pretende fazer uma breve pausa. “Vamos descansar um pouco, mas nos desvincular, nunca. Nossa vida já foi transformada e impactada demais por este serviço tão especial”.
O Serviço Família Acolhedora visa compreender os motivos pelos quais a criança ou adolescente é afastado judicialmente de sua família de origem e busca sua reintegração até que todas as alternativas sejam esgotadas. Em último caso, a criança é encaminhada para adoção. Por isso, as famílias registradas no Família Acolhedora assinam um termo renunciando ao interesse em adotar.
Como acolher
Para integrar o Serviço Família Acolhedora, é necessário residir em Nova Iguaçu há pelo menos dois anos e ter uma moradia que atenda às necessidades básicas da criança, entre outros requisitos. Além disso, é essencial que todos os membros da família concordem com a inserção no serviço e compreendam que não se trata de adoção, mas da promoção de um lar temporário para o acolhido. Assim, eles passarão por avaliações psicossociais e participarão de um processo de capacitação para estarem prontos para acolher crianças afastadas de suas famílias de origem.
Os interessados em se inscrever podem visitar a sede do serviço, que está situada na Rua Dr. Luiz Guimarães, nº 956, no Centro. Também é possível contatar via WhatsApp (99575-1913) ou pelo e-mail [email protected].